Eu tenho um pesar comigo
Bem fundo, dentro do peito
Porque vejo com tristeza
Que ninguém me tem respeito.
Eu bem sei que sou criança
Mas gente, já sou também
Penso cá no meu restando
Ou sou gente ou sou ninguém
E ás vezes a professora
Quando esta impertinente
Diz-me assim:
-Oh , rapariga tu pensas que já és gente?!
Se outras vezes em conversa
Quero meter o guedelho
Grita logo minha mãe
Cale-se lá seu fedelho
Manda-me fechar o bico
Que vá tratar de outro ofício
E a mana diz assim
Já quer dar leis o respicio!
E o meu pai que me conhece
E não vai na cantiga
Mas também não poupa a dizer
Já tem catarro a formiga!
E a criada lá de casa
Que grande raiva me mete
Não me quer chamar senhora
Só me chama seu pivete!
Tudo isto me arrelia
Estou num nervoso constante
Então para ser gente
É preciso ser gigante?
Sou pequena!
Isso que tem?
Um dia serei maior!
Pequena sim, mas gente!
Sou gente, sim senhor!
Sou gente
Não sou respicio, nem pivete, nem pirralha
Sou gente, vós bem vedes
Já vos mostrei quanto valho!!
Sou sem duvida uma sonhadora e uma criança muito feliz...
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